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Quando Freud encontra a era digital: visão psicanalítica sobre a influência da tecnologia no bem-estar emocional

A era digital trouxe uma mudança sem precedentes em como nos relacionamos, trabalhamos e vivemos. As tecnologias de informação e comunicação, cada vez mais presentes no nosso dia a dia, não só têm alterado nossa realidade externa, mas também nosso mundo interno.

Como psicanalista, me pergunto sobre qual o impacto da digitalização em nossas vidas emocionais.

O que Freud diria sobre essa nova realidade da era digital?

Para entender isso à luz da psicanálise, é importante explorarmos alguns conceitos essenciais da teoria freudiana. Freud em seu texto “O Mal-estar na Civilização” afirmou que o psiquismo humano é influenciado por duas forças opostas: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Tânatos). Enquanto a pulsão de vida busca preservar e unir, a pulsão de morte se inclina para a destruição e o retorno ao estado inorgânico. É desse conflito entre essas forças que surge o dilema psíquico, base da neurose e do mal-estar na civilização.

Outro conceito importante na psicanálise é o narcisismo, que envolve o investimento emocional do sujeito em si mesmo. O egoísmo inicial, que surge nos estágios iniciais da vida, é aos poucos substituído pelo interesse afetivo em elementos externos, um processo fundamental na criação de laços emocionais e na integração do sujeito na sociedade e elaboração do ego.

Contudo, diante de situações de contrariedade ou perigo, é possível que o indivíduo retroceda a estados mais egocêntricos, desviando seu interesse dos elementos externos e direcionando sua energia para o próprio eu.

Como a tecnologia impacta no psiquismo humano?

Considerando essas ideias psicanalíticas, surge a questão importante. Como a tecnologia impacta as pulsões internas e o equilíbrio narcísico do indivíduo contemporâneo?

Uma possibilidade é que a digitalização e o tempo gasto em tela, ao proporcionar gratificação instantânea e contínua, alimenta os impulsos autodestrutivos e um ego excessivamente centrado em si mesmo.

As redes sociais, por exemplo, ao possibilitarem a construção de uma imagem idealizada própria e incentivarem uma busca constante por curtidas e aprovação, podem promover um investimento exagerado no EU em detrimento das relações interpessoais.

Adicionalmente, a tecnologia ao criar uma ilusão de onipotência e controle pode estar contribuindo para negar simbolicamente as limitações humanas e resistir à aceitação da diversidade.

No mundo virtual, onde tudo parece possível e ao alcance das mãos, as pessoas podem enfrentar desafios ao lidar com a ausência, frustração e diferenças – aspectos essenciais para o desenvolvimento psicológico e social

Além disso, devemos considerar o impacto da tecnologia nas relações interpessoais e emocionais. Freud destacou como as relações interpessoais moldam a mente e influenciam a formação da personalidade.

No entanto, na era digital, essas relações mediadas pela tecnologia tendem a ser superficiais, passageiras e descartáveis, o que dificulta a criação de laços afetivos profundos e duradouros (Bauman, 2003).

A falta de contato físico real na era digital

A falta de contato físico real e presença direta do outro pode levar a uma “atrofia emocional”, na qual é difícil para as pessoas reconhecerem suas próprias emoções e as dos outros. Isso pode resultar em uma diminuição da vida emocional e em uma maior susceptibilidade a problemas como ansiedade, depressão e solidão.

É importante salientar que a tecnologia não é intrinsecamente boa ou má. Como apontado por Freud, a civilização sempre impõe limites à satisfação dos impulsos instintivos e requer concessões por parte dos indivíduos.

Como cada indivíduo enfrentará essas limitações e descobrirá maneiras criativas e satisfatórias é a questão em destaque.

Como a psicanálise entende a tecnologia no âmbito do impacto emocional?

Neste contexto, a psicanálise pode proporcionar um espaço para refletir e explorar o impacto da tecnologia em nossas vidas emocionais. Por meio do diálogo e da escuta atenta, é possível que a pessoa se aproprie de sua própria história, compreenda seus desejos e conflitos, e encontre novos significados para sua existência para além das gratificações instantâneas oferecidas pela tecnologia.

Além disso, a psicanálise nos orienta a considerar maneiras mais saudáveis e inovadoras de interagir com a tecnologia sem cair nas armadilhas do narcisismo ou da pulsão destrutiva. Isso envolve estabelecer limites claros, preservar espaços íntimos e serenos, nutrir relacionamentos significativos e investir em atividades sublimadas como arte, conhecimento e trabalho.

Quais os desafios da era digital para a psicanálise?

Resumidamente, a era digital, principalmente quando falamos de redes sociais e jogos online, tem apresentado desafios complexos para nossa vida emocional que demandam uma reflexão crítica e uma abordagem multidisciplinar.

A psicanálise, com sua vasta base teórica e foco na singularidade de cada indivíduo, pode enriquecer esse debate ao iluminar as dinâmicas inconscientes que permeiam nossa interação com a tecnologia.

Cabe a cada um de nós, enquanto sujeitos pensantes e desejantes, encontrar um equilíbrio viável entre as exigências da era digital e as necessidades de nosso mundo interior. É responsabilidade da psicanálise, enquanto área de conhecimento e prática clínica, continuar a acompanhar as mudanças de nosso tempo, proporcionando um ambiente

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