fbpx

Como os Investimentos Libidinais Influenciam nossos Medos

A ansiedade é uma condição emocional muito complexa que pode atingir qualquer pessoa e se dar por várias causas e manifestações possíveis.

Enquanto algumas formas de ansiedade podem estar relacionadas a ameaças externas ao sujeito ou preocupações realistas, outras podem ter suas raízes em questões psicológicas mais profundas e inconscientes. Uma dessas questões, de acordo com a psicanálise, é a catexia, que é o investimento de energia libidinal em objetos, pessoas, coisas ou ideias.

Freud usou o termo “catexia” para descrever o processo pelo qual a energia psíquica, ou libido, é direcionada para ou “investida” em um objeto. Essa energia pode ser positiva (catexia libidinal) ou negativa (catexia agressiva), e pode ser direcionada para objetos internos, como o próprio ego, ou externos, por exemplo para outras pessoas, atividades ou metas. Por exemplo, um forte afeto ou uma raiva que se sente fixada em relação a uma pessoa é uma catexia.

A catexia, dessa forma, é investimento de energia mental e emocional (libido) em pessoas, objetos ou ideias. Essa energia pode ser direcionada para objetos externos (catexia de objeto) ou para o próprio ego (catexia do ego). Quando os padrões de catexia se tornam rígidos, excessivos ou mal adaptativos, podem surgir problemas psicológicos. Por exemplo, uma catexia excessiva na aprovação dos outros pode levar à dependência emocional e à ansiedade, enquanto uma catexia inadequada do ego pode resultar em baixa autoestima. 

A catexia e a ansiedade

A teoria psicanalítica sugere que nossos padrões de catexia, estabelecidos desde a infância, podem ter um impacto profundo em nossa vida emocional, incluindo nossa experiência de ansiedade. Quando investimos uma grande quantidade de energia libidinal em um objeto ou pessoa, podemos nos tornar emocionalmente dependentes desse objeto para nossa sensação de bem-estar e segurança. Se esse objeto é então percebido como ameaçado ou perdido, podemos experimentar intensa ansiedade e medo.

Posso citar o exemplo de uma criança que desenvolve uma forte catexia libidinal em relação a um dos pais pode sentir uma ansiedade esmagadora quando esse pai não está disponível ou é percebido como emocionalmente distante. Essa ansiedade pode persistir na idade adulta, manifestando-se como um medo do abandono ou uma necessidade excessiva de reasseguramento em relacionamentos íntimos.

Da mesma forma, uma pessoa que investe uma grande quantidade de catexia em sua carreira ou status social pode experimentar ansiedade severa quando confrontado com a possibilidade de fracasso, rejeição ou perda de prestígio. Nesse caso, a ansiedade é impulsionada pelo medo de perder o objeto no qual uma grande quantidade de autoestima e identidade foi investida.

A catexia também pode contribuir para a ansiedade através do mecanismo de deslocamento. Quando a energia libidinal associada a um objeto ou impulso proibido ou ameaçador é percebida como muito perigosa para ser expressa diretamente, ela pode ser deslocada para um objeto ou situação mais segura. Por exemplo, um indivíduo que sente raiva inconsciente em relação a uma figura de autoridade pode deslocar essa raiva para um objeto mais seguro, como um animal de estimação ou um hobby. No entanto, como a verdadeira fonte da catexia agressiva não foi abordada, a ansiedade subjacente pode persistir e se manifestar de outras maneiras.

A origem em conflitos e traumas infantis

A teoria psicanalítica também sugere que padrões problemáticos de catexia podem estar enraizados em conflitos e traumas infantis não resolvidos. Se uma criança experimenta uma perda significativa, rejeição ou abuso durante os estágios formativos do desenvolvimento psicossexual, ela pode desenvolver catexias defensivas ou mal adaptativas como uma forma de lidar com a dor emocional. Essas catexias podem então continuar a influenciar os relacionamentos e escolhas do indivíduo na idade adulta, contribuindo para ciclos de ansiedade, depressão e conflito interpessoal.

Superando a ansiedade relacionada à catexia

Para superar a ansiedade relacionada à catexia, a psicanálise enfatiza a importância de trazer esses padrões inconscientes à consciência através da exploração terapêutica na análise pessoal. Ao examinar as origens e significados de suas catexias, é possível começar a desemaranhar os nós emocionais que contribuem para seus medos e inseguranças.

Esse processo pode envolver a análise de sonhos, associações livres e reações transferenciais na relação terapêutica com o psicanalista. E ao explorar como os padrões de catexia se desenvolveram e são mantidos, a pessoa pode começar a redirecionar sua energia libidinal de maneiras mais saudáveis e adaptativas.

Por exemplo, um indivíduo que desenvolveu uma forte catexia em relação à aprovação dos outros pode aprender a cultivar um senso mais internalizado de autoestima e autovalorização. Ao investir energia em atividades e relacionamentos que nutrem seu crescimento pessoal, em vez de depender da validação externa, ele pode reduzir sua vulnerabilidade à ansiedade relacionada à rejeição ou crítica.

Da mesma forma, alguém que deslocou sua catexia agressiva para objetos ou comportamentos autodestrutivos pode aprender a reconhecer e expressar sua raiva de maneiras mais diretas e assertivas. Ao abordar a fonte real de seus sentimentos negativos, ele pode aliviar a ansiedade e o conflito interno associados ao deslocamento.

agende sua consulta

Retrabalhando as catexias mal adaptativas

Acho importante dizer que o processo de retrabalhar as catexias mal adaptativas não é rápido nem fácil. Afinal, esses padrões muitas vezes estão profundamente enraizados na psique da pessoa e podem servir a funções defensivas importantes. Abandonar essas defesas e enfrentar as emoções e memórias subjacentes pode ser um processo desafiador e até mesmo doloroso.

Por outro lado, com o apoio psicanalítico, é possível navegar por esse processo de autodescoberta e transformação. Quando os padrões inconscientes são trazidos à luz, podem moldam nossa experiência de ansiedade, ajudando a tornar possível ver meios de começar a nos libertar de seus efeitos limitantes e desenvolver maneiras mais flexíveis e resilientes de nos relacionarmos com nós mesmos, com os outros e com o mundo ao nosso redor.

Claro, a teoria da catexia é apenas uma das formas de entender a complexa paisagem da ansiedade humana. Muitas outras maneiras e perspectivas, como a teoria comportamental, a terapia cognitiva e a neurociência, também oferecem suas contribuições valiosas sobre as causas e tratamentos da ansiedade.

No entanto, para aqueles que se identificam com os conceitos psicanalíticos de investimento libidinal e conflito inconsciente, explorar o papel da catexia na ansiedade pode ser um caminho transformador, uma vez que, propõe traçar meios de nos tornarmos mais conscientes de onde e como investimos nossa energia emocional. E, com isso, podemos passar a fazer escolhas mais intencionais sobre como queremos direcionar nossa libido em busca de crescimento, cura e conexão.

Considerações finais

A ansiedade não precisa ser um tirano que domina nossas vidas. Com tratamento, coragem e o apoio certo, podemos aprender a enfrentar nossos medos mais profundos, desemaranhar os nós de nossas catexias e cultivar um senso renovado de liberdade, propósito e paz interior. Esse é o convite que a psicanálise nos faz, para nos aventurarmos nas profundezas de nossa própria psique, para que possamos nos libertar para viver e amar mais plenamente.

Deixe seu comentário

google-site-verification=YNXRddzE7b7yh3G8EflWwCZm6cKc14b4KoQWihWKB-A