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Hoje, gostaria de abordar um tema que considero muito delicado e profundamente doloroso, que é a perda de um filho.

Como psicanalista e psicóloga, tenho me debruçado sobre o tema acerca do processo de luto de pais e responsáveis que vivenciaram essa experiência tão terrível , e sinto que é importante compartilhar algumas reflexões sobre esse processo de luto tão complexo.

Como lidar com a morte de um filho

A morte de um filho é uma das experiências mais traumáticas que um ser humano pode enfrentar. Rompe com a ordem natural da vida, na qual acreditamos que os pais deveriam partir antes dos filhos.

Essa é uma ferida narcísica profunda, que abala as bases da identidade parental e confronta a pessoa enlutada com a finitude da vida de forma brutal.

Sigmund Freud, escreveu no texto “Luto e Melancolia” (1917), que o luto de uma forma geral como é uma reação natural à perda de um objeto amado, que demanda um trabalho psíquico intenso.

No caso específico da perda de um filho, esse trabalho se torna ainda mais árduo, pois envolve o desinvestimento libidinal de um objeto que era parte fundamental da própria vida e identidade do enlutado.

Emoções vividas no luto

Nesse processo de luto, é comum que os pais enlutados vivenciem uma série de emoções muito intensas e também contraditórias. A negação inicial, a raiva, a culpa, a barganha e a profunda tristeza fazem parte desse turbilhão emocional. É muito importante acolher e legitimar esses sentimentos, sem julgamentos ou expectativas de um “tempo certo” para a elaboração do luto.

Não é possível imaginar o tão forte é a dor dessa perda, e por isso, o  luto pela perda de um filho é um processo que talvez nunca se encerre completamente. É uma ferida que cicatriza, mas que sempre carregará a marca da ausência. E é justamente por isso que é preciso aprender a conviver com essa falta, ressignificando a relação com o filho perdido e encontrando novos investimentos libidinais.

No trabalho clínico com pais enlutados, é preciso oferecer um espaço de escuta acolhedor e não-julgamental.

Como psicanalista, penso que é preciso estar atenta às particularidades de cada caso, respeitando o tempo e o ritmo de cada enlutado. Não se trata de buscar uma “superação” ou o “esquecimento” do luto, mas sim de acompanhar o paciente em seu processo de elaboração e ressignificação da perda.

Pontos importantes a serem trabalhados no processo terapêutico

Legitimação e acolhimento dos sentimentos

É necessário que o enlutado se sinta acolhido e compreendido em seu sofrimento. O psicanalista deve oferecer um espaço seguro para a expressão das emoções, sem julgamentos ou expectativas de “superação”.

Elaboração da culpa

Muitos pais enlutados vivenciam intensos sentimentos de culpa, ainda que não tenham de fato culpa alguma, mas se questionam se poderiam ter feito algo para evitar a perda. É importante trabalhar esses sentimentos, compreendendo sua origem e buscando uma ressignificação.

Ressignificação da relação com o filho perdido

O processo de luto envolve uma reorganização da relação com o objeto perdido. É preciso encontrar novas formas de se relacionar com a memória do filho, sem que isso impeça o investimento em novos objetos e projetos de vida.

Fortalecimento dos vínculos familiares e sociais

A perda de um filho pode abalar profundamente as relações familiares e sociais. É importante trabalhar a comunicação e o apoio mútuo entre os membros da família, fortalecendo esses vínculos.

Respeito ao tempo particular de cada enlutado

Não existe um “prazo certo” para a elaboração do luto. Cada pessoa vivencia esse processo de forma pessoal, e é fundamental respeitar essa singularidade.

Grupos de apoio

Além do trabalho terapêutico individual, existem também grupos de apoio voltados para pais enlutados. Esses espaços de troca e acolhimento podem ser muito benéficos, permitindo o compartilhamento de experiências e o fortalecimento mútuo.

Ressiginificar a dor

É importante também dizer que, apesar da intensidade da dor, é possível encontrar caminhos para a ressignificação da vida após a perda de um filho.

Não se trata de esquecer ou substituir o filho perdido, mas sim de aprender a conviver com sua ausência, encontrando novos sentidos e investimentos libidinais.

O trabalho de luto envolve também um processo criativo, no qual o enlutado pode sim encontrar novas formas de existir e de se relacionar com o mundo. É um processo extremamente doloroso, mas que também pode ser transformador.

Considerações finais

Encerro este post com um convite à reflexão e ao acolhimento. Se você está vivenciando o luto pela perda de um filho, saiba que não está sozinho(a). Busque apoio, seja na terapia, nos grupos de suporte ou junto a familiares e amigos. Permita-se vivenciar seu processo de luto, sem cobranças ou expectativas. E, acima de tudo, tenha compaixão consigo mesmo(a) nesse momento tão delicado.

Se você conhece alguém que esteja passando por essa experiência, ofereça sua escuta e seu suporte. Muitas vezes, um gesto de acolhimento e compreensão pode fazer toda a diferença.

Que possamos, como sociedade, falar mais abertamente sobre o luto e a perda, oferecendo espaços seguros para a elaboração dessa dor. E que possamos, como indivíduos, encontrar caminhos para ressignificar nossas vidas após as perdas que nos atravessam.

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